Espelho de Narciso

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Minha imagem, antes de chegar até você, percorre um caminho.

Como a luz de uma estrela que já morreu nos chega tardiamente.

Antes que eu possa supor o que sou para mim mesma, meu rosto, minhas roupas, meu tom de voz passou pelo filtro da tua história e se acomodou em teu ser.

A partir daí não sou dona de nada.

Não conheço quem me tornei quando te adentrei.

Nossa relação será sempre a 4: você e eu, o meu “você” e o seu “eu”.

Nossa relação será mediada pelas projeções que fizermos de nós nos outros.

E, quando despertarmos desse sono egóico, teremos passado ao largo desse outro.

Teremos desperdiçado esse outro.

Teremos convivido a vida inteira com versões da nossa própria pessoa que forjamos nos outros.

Talvez por isso a humanidade se sinta tão só.

Talvez por isso se polarize.

No fim é tudo uma busca por ser visto.

Fora do sono alheio.


(2021)

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