Olho pra mim e onde terminam meus pés?
Fecho os olhos porque eu não aguento.
Eu queria derreter e me espalhar pelos cantos. Mas meu pé, como fim de meu corpo, prende tudo e eu não posso sair.
Se eu respiro é porque algo em mim quer viver. Meus olhos fecham e meu corpo fica abandonado. Mas eu continuo vivendo.
A inércia dói tanto quanto a ação. Não há posição cômoda. Acordar tem todo um peso. Minhas mãos em minha testa tentam me dizer que eu sou alguma coisa. Mas eu não sei se acredito. Preciso desmaiar ao contrário.
Agora eu estava deitada e senti um terrível amor por mim. Abri os olhos e vi as grades e continuei não entendendo as coisas. Meu pulso tomou força e aqui estou, translucidamente, vomitando o que desconheço. Às vezes não sei como se escreve, mas estou escrevendo, estranhando muito o movimento das mãos sobre a caneta que, misteriosamente, fala ao papel. E fim.
Meus dedos estão quentes e eu acordei.
Vou tomar um banho para sentir o mundo. Mas antes, vejo se alguém precisa de mim. Apenas sentir o mundo enquanto alguém precisa de mim é assustadoramente egoísta. Mas às vezes eu sou um monstro.
Voltei. Lavei alguma louça, mas foi tudo muito estranho. Os objetos que eu lavava, eu sentia como se os estivesse machucando. E eles me olhavam como que compreendendo o meu ofício.
As coisas todas se fazem ao mesmo tempo. Em algum lugar uma começa a transbordar. Amparo.
Continuo. Continua.
Tudo o que se faz, se faz por algum motivo. Eu não me faço. Sou fazida. Sou uma fazenda de mim mesma. Tive de inventar o vocábulo porque o existente não preenchia o meu vazio. Fazida coube muito bem no que estava por vir e não vinha por falta de roupa. A roupa-palavra.
Como você imagina que as pessoas sentem?
O que você acha que as pessoas estão constantemente sentindo?
Pausa. Falta-me um átrio. O tudo revela o nada. E eu continuo só.
As pessoas choram, as pessoas riem, as pessoas tem fome.
Mas o teu eu é mais pra dentro?
O que é que você não vê?