Quem é que não tem vê, menino?
Onde você descansa enquanto cede teu corpo ao estado prata?
Por que precisamos da alegoria da estátua viva para nos colocarmos em movimento social? Qual é o pedido de socorro do ser humano para com o seu semelhante?
O estado prata.
Quem é o prata?
Um estado prata é um estado de alguém que cindiu da sociedade.
Uma criança escolhe virar uma estátua para ser vista.
Ela, então, se transforma em OBRA.
E A OBRA, e não a criança, é quem sai às ruas para pedir dinheiro.
As pessoas vêem movimento numa estátua parada mas não vêem a paralisia dos corpos em movimento no dia a dia.
A beleza está na obra pintada e a nossa sociedade é feita para a obra.
A obra pertence mais à sociedade do que o cidadão.
A cidade está aberta para obras e não para pessoas.
O poder público gerencia para obras e não para pessoas.
Antigamente, as praças eram lugares onde se erguiam bustos para eternizarem momentos. Não eram espaços destinados à convivência e sim verdadeiros memoriais. Talvez, com o passar do tempo, o monumento tenha esvaziado seu sentido, e foi perdendo a importância para que as pessoas pudessem se relacionar.
Quando um menino se pinta de prata e tenta virar um objeto para ter algum valor, ele reconhece que a sociedade valoriza o objeto e não a pessoa.
E, então, ele faz a alquimia generosa: ele humaniza a obra e nos devolve a praça. A gente só vai se importar agora com a obra porque ela é humana.
Ele, querendo desumanizar a si, humanizou a obra. E isso nos devolve o lugar de uma praça para pessoas e não para monumentos.
Então menino, você é nossa salvação. Permaneça obra para que a obra possa ser humana. E, se obras virarem gente, teremos então e finalmente uma sociedade para pessoas.
Por encontros luminosos.
Por legados luminosos forjados de momentos cinza-escuro.
O Prata é o novo nu.
(2018)